Guardiões da floresta: a mata Atlântica ainda prospera no vale do Ribeira

15/04/2014 16:45

No vale do Ribeira, ao sul do estado de São Paulo, a natureza resiste às pressões e os quilombolas zelam pela mata Atlântica

 

foto: Caio Vilela
O feitio artesanal da farinha de mandioca triturada e peneirada nos mesmos moldes do passado, é uma das práticas centenárias que persistem nas comunidades do vale do Ribeira.Foto: Caio Vilela

 

Onde começa a floresta e termina a horta? Sob a sombra das árvores, Benedito da Silva, 58 anos de idade, caminha pela roça com a intimidade de quem vive da terra. “Ditão”, como ele é conhecido entre os moradores do Quilombo de Ivaporunduva, é mais ligado a esse pedaço de mata Atlântica do que se possa imaginar. Sob esse chão estão enterrados, junto às touceiras de bambu, os umbigos de várias gerações de sua família. No passado, quando os parentes da gestante recebiam da parteira o cordão umbilical cortado, era preciso enterrá-lo às pressas para garantir que o bebê tivesse rumo na vida. Uma crença tão antiga quanto a jabuticabeira centenária plantada pela avó de Ditão. Aos pés da árvore carregada de frutos, o homem distancia o olhar. Depois de um silêncio tomado por memórias, diz: “Ela está aqui há 300 anos”.

No quilombo, localizado no município paulista de Eldorado, no vale do Ribeira, a 242 quilômetros de São Paulo, há muito mais do que jabuticabas: bananas de diferentes tipos, milho, mandioca, taioba, chuchu. Há, também, várias espécies de palmeiras, com destaque para a juçara. Nativa, e de comércio proibido, essa variedade tem seu fruto explorado, de forma controlada, por Ditão e seus companheiros.Durante a coleta, os homens preservam o caule (muito apreciado na culinária brasileira) para garantir a sobrevivência da própria árvore: é que, quando se extrai o palmito da juçara, a planta perece.

Uma variedade diferente é cultivada no Quilombo de São Pedro, também em Eldorado, onde a comunidade planta, além de hortaliças e legumes, a palmeira pupunha, espécie exótica adaptada à região. Ali, José da Guia Morato, 38, está de casa nova. Feita de alvenaria, foi construída ao lado da antiga moradia de pau a pique na qual ele nasceu. “Para tentar uma vida diferente”, relata Morato, “muita gente foi embora daqui, mas depois voltou.” A oferta de alimento e o modo de vida tradicional parecem funcionar como um irresistível chamado para os filhos desse preservado trecho de mata Atlântica.


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Fonte: https://horizontegeografico.com.br/exibirMateria/2062/guardioes-da-floresta-a-mata-atlantica-ainda-prospera-no-vale-do-ribeira

 

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