Igreja e sociedade civil definem resistências e alternativas às violações da mineração

16/12/2014 11:57

 

O 2° Encontro “Igrejas e Mineração”, que aconteceu entre os dias 2 a 5 de dezembro em Brasília, articulou mais de 90 pessoas provenientes de 13 países de toda a América Latina. Religiosas, religiosos, leigos e leigas compartilharam reflexões e definiram estratégias frente à imposição do modelo extrativista, assim como ao impacto provocado na vida dos povos, à destruição da natureza e à violação dos Direitos Humanos individuais e coletivos.

“Definimos algumas linhas de estratégia e as diversas formas pelas quais nossas igrejas podem aprofundar a relação com as comunidades diretamente afetadas pela indústria extrativa. Nosso encontro e o grito de muitas vítimas da mineração estimulam as igrejas e suas hierarquias a assumirem posições cada vez mais claras em defesa da vida e dos territórios frente à agressão da mineração que visa lucro. Tem muitas pessoas e grupos que estão trabalhando no enfrentamento dos conflitos causados pela mineração, seja em âmbito eclesial que da sociedade civil organizada. Com eles, podemos aprender e trocar sinergia. Também precisamos cada vez mais nos articular com os organismos internacionais de defesa dos direitos humanos”, reitera Cesar Correa, da Oficina de Justicia, Paz y Integridad de la Creación de la Sociedad Misionera Columbana - Chile.

A indústria da mineração na América Latina está em uma corrida desenfreada para exploração de novas jazidas, vide o Novo Código de Mineração em tramitação no Brasil, cujo relator da proposta, o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB-MG) recebeu R$ 1,8 milhão por parte de empresas de mineração para sua campanha à reeleição, neste ano, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em disputa com essa lógica do lucro a qualquer custo, a diversidade cultural dos povos da América e suas cosmovisões encontram-se ameaçadas por um modelo que se apropria dos territórios, provoca remoções forçadas, perseguição, judicialização e assassinato de líderes comunitários e pastorais que acompanham estas lutas. A articulação com os povos originários e o respeito às diversas cosmovisões, buscando nelas novas fontes de inspiração e resistência, foi também uma das propostas de encaminhamento do encontro.

“Fica cada vez mais claro que os povos originários, que pareciam às vezes do passado, na verdade são os que nos abrem ao futuro. Na América Latina temos experiência de que os povos pré-capitalistas são os que efetivamente resistem ao capitalismo. São os camponeses, os indígenas, os quilombolas. A mãe terra é quem nos governa e sustenta, e não o contrário. Esses povos nos ensinam a pensar de maneira inclusiva e agir a partir do princípio da relação”, afirma Moema Miranda, do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios frente à Mineração.

Unidos pela comum missão profética, diversos setores e líderes das Igrejas Cristãs acompanham as comunidades e pessoas que defendem a Criação, a Vida e o Direito frente ao modelo extrativista; sentem nisso uma forma concreta e urgente de fidelidade à missão eclesial. 

“Precisamos reconstruir ou gerar novos paradigmas, isto implica desafiar o modelo econômico, patriarcal e antropocêntrico. A opção da igreja deve ser clara: nós somos discípulos e seguidores de Cristo, que tinha uma pedagogia própria e uma opção clara pelos excluídos da esfera do poder, que não têm espaço, nem voz para ser representados. A Igreja deve manter essa opção pelos sofredores, os afetados pela mineração, os pobres”, aponta Cesar Correa.

A plataforma “Igrejas e mineração” continua articulada, também depois do rico e representativo encontro de Brasília. Nessa semana já interagiu com outra rede importante recentemente instituída pela igreja católica: a Red Eclesial Panamazonica, que também assumiu a denúncia das violações provocadas pela mineração e o compromisso do anúncio de novos modelos de vida, mais humanos, relacionais e comunitários, mais respeitosos da vida e dos limites da mãe Terra.

Outros participantes da reunião de Brasília continuaram sua viagem até Lima, em Perú, para acompanhar, com reivindicações e propostas concretas, os debates da Cúpula Mundial sobre mudanças climáticas, a COP20.

Assim, as igrejas assumem ecumenicamente o caminho ao lado das comunidades, no espírito do Evangelho de Jesus de Nazaré e com abertura a alianças com todos os movimentos e organizações comprometidas em defesa da vida.

Para contatos: iglesiaymineria@gmail.com

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