Vídeo retrata ameaças a comunidades da Volta Grande do Xingu

02/04/2015 10:08
Publicado em seg, 23/03/2015 - 08:56
 

“Não sei se eles sabem disso” retrata a realidade ds atingidos à jusante de Belo Monte, duplamente ameaçados pela seca do rio e pelo projeto de extração de ouro transnacional Belo Sun

“Se você visse aqui, no passado... aqui era animado demais. Hoje tem dia que o povo está aí, debaixo dessa mangueira, e ninguém dá uma palavra pra ninguém, porque não tem o que conversar. Os problemas batem tanto, que faz chegar ao silêncio, fica melhor ficar calado.”

Assim o morador Valdivino Costa define o ânimo da comunidade da Ilha da Fazenda, onde moram 64 famílias. A ilha está na Volta Grande do Xingu, trecho de 100 km de rio que será desviado para alimentar as turbinas de Belo Monte e ficará praticamente seco.

Os impactos à região não se restringem só à barragem. A redução do rio e a criação de um pólo de geração de energia na proximidade atraíram a transnacional canadense Belo Sun. Além de tirar o ouro - mais de 50 toneladas -, ela ameaça tirar definitivamente o sustento dos garimpeiros que ainda resistem na região apesar de décadas sendo ameaçados por empresas.

“A Belo Sun diz que os garimpeiros estão invadindo a área dela. Veja bem, eu estou morando aqui há 22 anos, tirando o sustento. Eles são uma empresa canadense que chegou há dois. E nós é que estamos invadindo?”, questiona Valdomiro Lima, um dos integrantes da Cooperativa Mista de Garimpeiros da Ressaca, Itatá, Galo, Ouro Verde e Ilha da Fazenda (Coomgrif). A Vila da Ressaca, o principal núcleo da região, com 330 famílias, está dentro área da qual a Belo Sun quer se apropriar.

A Norte Energia aplicou algumas medidas mitigatórias na região, mas elas são consideradas insuficientes pelos moradores. Na Ilha da Fazenda, instalou alguns poços artesianos, mas os moradores desconfiam que eles podem perder a funcionalidade com a seca do rio. Na Ressaca, foi instalado o sistema de saneamento, mas o trecho de via cimentada não foi recomposto. O trecho de chão está intrafegável. Moradores comentam que o sistema não tem desnível e é só “lavagem de dinheiro”.

Enquanto na Ressaca os garimpeiros querem condições pra continuar exercendo sua profissão e permanecer no local, na Ilha da Fazenda a situação é mais nebulosa. As famílias não vêem chance de sobrevivência na área seca, pois não terão como navegar nem pescar, e lutam para que a Norte Energia reconheça que eles são tão atingidos pelo empreendimento quanto aqueles que vivem na área que vai alagar.

O minidocumentário “Não sei se eles sabem disso” retrata essa realidade através do depoimento dos próprios atingidos nas duas comunidades. Assista ao vídeo, uma parceria entre o MAB e o Coletivo Cajueiro.

 

Fonte: MAB 

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